11.7.10

"Lembro quando te conheci, você assistindo o ‘Guarani’, digo quando te conheci de fato, quando te olhei e pensei “meu deus, que mulher é essa?”, deve ter sido a vodca que abriu meus olhos pra sua beleza, pro seu charme, pra tudo… Você com aquele vestidinho azul, um lápis enfiado no cabelo e o chaveiro da Minnie pendurado no botão do vestido. E pensei “eis a mulher da minha vida.” Nossa primeira noite de amor. Você falando coisas lindas, se eu faria um filme com você, se eu filmaria a gente transando. Se eu faria tudo com você, mas você com medo que eu tirasse a roupa. E eu com minhas calças vermelhas querendo sentir sua pele. Você em cima de mim, a luz da lua entrando pela janela. Foi, sem dúvida, uma das noites mais especiais da minha vida.

Eu vindo pra São Paulo no dia do meu aniversário, porque quis passá-lo com você, pelo menos a meia noite. Ligando e desligando o telefone milhares de vezes naquela semana. Chegando e gente me dizendo “tem gente que pensa que você sumiu…”, a gente se falando por tel, você na casa do Pilar e eu na cantina do Duílio… A gente jogando com as palavras, a gente não sabia o que era… A gente em São João, a gente brincando no mato, a gente tomando banho de chuva, a gente de mão dada naquele ônibus velho.

A gente vindo pra casa no dia 23 de dezembro, pra esticar o tempo. Eu chegando em casa dia 24 de tarde, quase chegou depois do natal. Nos falamos todos os dias. Fizemos passeios. Fizemos amor. Fizemos sorrisos.

Voltamos pra nossa casa no meio de janeiro, porque queríamos o tempo todo pra nós duas. E tivemos o tempo todo. Até que viemos embora. Quase morri de tristeza e gastamos quase 500 reais de telefone no primeiro mês, nos vimos todos os findis, mais passeios. Amor. Sorrisos.

E começamos a nos perder… Sem perceber. E nos encontramos de novo quando você veio ficar na Nica. E ali percebemos que o cotidiano era o que nos unia. Unidas, nada podia contra nós. E você teve que ir embora de novo. E você me disse que eu já não era o centro da sua vida. Eu perdi o meu centro, porque você era o meu centro. E senti uma dor profunda, de animal ferido. De gente que já foi deixada de lado na vida, por outras pessoas e talvez você não soubesse disso. E eu pensei “nunca vou ser o centro da vida de ninguém”. Tenho que viver com isso.

Mas seus olhos diziam outra coisa. Mas você resolveu endurecer comigo. E eu sem entender nada. Pensava “cadê aquela moça doce que conheci? Que me pedia pra fazer um filme dela?”

E percebi que a gente tinha se perdido pra sempre. Estavámos sendo atropeladas pelo amor que construímos e que cobrava a sua conta. Se não era pra ser perfeito, seria o inferno e teríamos que passar por ele. Você jogou álcool e eu risquei o fósforo, foram as nossas contribuições.

Hoje? Existe um vazio tão grande, mas tão grande que dói quando respiro. Uma cama vazia, que durmo num cantinho, não quero ocupar seu espaço, nem comigo, nem com ninguém. E vai ser assim pra sempre. Claro que passarão outras pessoas, mas nunca será como fazer amor no mato com você. Nada será como você à luz da TV, à luz da lua. Nunca. Ninguém."


Fratura exposta, por Cris Naumovs.

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